sábado, 22 de novembro de 2008

POETAS DA NOSSA TERRA;

QUEM É A ROSINDA

Sabem quem é a Rosinda
Cada um diz o que quer
Uma mulher que sofreu
Foi uma grande mulher
I
Hoje passa na Avenida
Já com a cabeça branca
Lembrando a Florbela Espanca
Que também sofreu na vida
Não é mulher convencida
Mas sabe o que vale ainda
É sempre, sempre bem vinda
Ainda sabe o que quer
Vou falar dessa mulher
Sabem quem é a Rosinda
II
Gosta de rir e brincar
Gosta de andar bem vestida
Assim vai levando a vida
Até a morte a levar
Não tem pressa quer cá estar
Foi e sabe ser mulher
Não é uma pessoa qualquer
Que acende a sua candeia
Não lhe interessa a vida alheia
Cada um diz o que quer
III
Gosta de cantar o fado
Canta com alma e garganta
Até dá vida a quem canta
Um fadinho bem cantado
O destino está marcado
Cada um para o que nasceu
Tem o dom que Deus lhe deu
Canta e escreve poesia
Vai transmitindo alegria
Foi uma mulher que sofreu.
IV
Levou a vida a lutar
Hoje tem a sua casinha
Não gosta de estar sozinha
Mas coitada tem que estar
Gosta muito de passear
Vive a vida como quer
Não é, nem foi uma qualquer
Soube dizer! Eu não vou
Pensou, sofreu e calou
Foi uma grande mulher.

ROSINDA SILVA
DEZ. 2008
CARVALHAL

Mãe: a 16 de Junho deste ano
Faz seis anos que eu te beijei
pela última vez.

MÃE
Passei hoje á tua porta
Lá estava a tua roseira
Também ela, quase morta
Braço dado com a videira.
Por entre troncos torcidos
Descortinei várias rosas
E uns cachos ressequidos
Das tuas uvas famosas.
Há tantos anos plantada
Tinha tal perfuma e cor!…
A cor, era encarnada.
Seu perfume, o teu odor.
P’ra quem passa lá na rua
Parece-lhe abandonada.
Nem sabem, que ela foi tua
A eles, não lhe diz nada!
P’la beleza que ela tem
P’lo cheiro das suas flores
Comparo-a a ti, hó! MÃE
Rainha dos meus amores.
Cheiravas sempre tão bem!...
Um cheiro que já mais esqueço
Igual ao que a rosa tem
Quando abre, no começo.
Um cheiro que eu adorava
Quando tu me amamentavas
E eu no teu colo te olhava
Feliz, porque me afagavas.
Um cheiro que irá comigo
Quando eu for p’ra sepultura.
Um cheiro de calor amigo
Que recordo, e me tortura.
Obrigado , querida MÃE
Põe em ti me teres gerado.
Seria um senhor ninguém
Sem teu ventre abençoado
Espera por mim, não te esqueças
Já que um dia terei que ir
Pois neste mundo de pressas
Não tenho pressa em partir

Grândola, Maio de 2008
A. Augusto.
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DECLARAÇÃO DE AMOR

Pastor de rebanhos
Seu nome, Aprígio
Mas só conhecido
Por Prijo Bugio
Bondoso, mas muito ingénuo
Gostava de dançar
As moças no baile
Não o queriam para par.
De botas enormes cardadas
Casaco largo de argim
De riscado, a camisa
Calças largas de cotim
O cinto, baracinha de esparto
Chapéu tapando as orelhas
Lenço encarnado ao pescoço
E só falando em ovelhas.
A noite era santa, de sto António
Pulou as fogueiras
Feliz, foi ao baile
Ver as moças solteiras.
Alguém tão igual
No Prigio se encantou
A Emerenciana, mas só Brenciana
Aos seus braços logo se agarrou
De olhos nos olhos
Dançaram enleados
Ai menina, o meu coração por si
É fabrica de fazer cajados
Está a dar-me nos cornos
Pedir namoro à menina?
Com meiguice ela respondeu:
Isso é tudo uma merda…mas…vá lá!
Ai meu rico Sto António
Tanto que eu rezi
Mas que moço tão porreiro
Tal como eu te padi.


M.V.R.
2008

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