quarta-feira, 13 de abril de 2011

Versos da festa D. Galo I que antigamente se fazia aqui em Grândola
Esta era uma festa tradicional praticada  nos anos trinta do Seculo
passado nas festas do Carnaval pelos foleões da terra.
                   I
Meus senhores minha senhoras
Eu era um galo de estimação
E condenaram-me à morte
Sem direito e sem razão
Perdoem-me os meus pecados
Todos os que aqui estão
               II
A razão por ter cantado
Da meia - noite em diante
Quando há pr’ai tanta gente
Que vive cantando o ado
Se os direitos são iguais
Porque fui eu condenado
               III
Maldita seja a justiça
Que assim condena quem canta
Porque ofende a gente santa
Também se canta na missa
Se canta cá fora de horas
É porque têm preguiça
            IV
V. Excia não pensa
Mas saiba senhor juiz
Que a desgraça do País
Depende da minha sentença
Todas as aves de penas
Tomam-na como ofensa
             V
Por essa pena ser igual
Meus filhos fazem protesto
Eles têm um manifesto
E vão p’ra greve geral
Tenho um filho plainudo
Que tem mais força que um pardal
             VI
Quem há-de ouvir as galinhas
Faltando-lhe o seu preferido
Atiram-se ao suicídio
E é pena coitadinhas
Gostam tanto de mim
E agora ficam sozinhas
             VII
Namorei duas galinhas
Por sinal uma era anã
E eu cantei-lhe uma manhã
Uma missiva das minhas
Ai que amores, ai que amores
Bonitas e tão fresquinhas
           VIII
Tudo tem um desfeixo
Eu sinto que vou morrer
Mas não me pode esquecer
Da fazenda que eu cá deixo
Vou legá-la aos meus amigos
P’ra não ficar ao desleixo.
              IX
Deixo a crista e os esporões
Ao Carlos Zacarias
Porque dizem todos os dias
Que ele pertence aos anões
Com essas duas emendas
Ele cresce de dimensões
             X
Ao Abilardo Assunção
Eu deixo as minhas orelhas
Porque as dele são tão pequenas
Que parecem duas golpelhas
Qualquer delas, enrolada
Dá um cortiço de abelhas
            XI
Eu deixo os meus olhinhos
Cheios de luz e de graça
Ao senhor Manuel dias
Que é fiscal da praça
Que o homem é tão míope
Já não conhece quem passa
              XII
Por ser uma prenda engraçada
Eu vou deixar o meu bico
Ao senhor Espada Rico
Pr’a dar a sua bicada
Ele corta sempre a direito
E nunca pica á calada
             XIII
Eu deixo a minha língua
Ao amigo Jaime Espada
Porque a dele é muito presa
Isso é uma grande maçada
Em lhe falando enganados
Ele não responde nada
              XIV
As minhas barbas antigas
Deixo-as ao José Milharadas
Que depois de colocadas
Já não se ilude em cantigas
E tendo barbas de galo
Não lhe faltam raparigas
              XV
Deixo o meu pescoço
Por ser delgado e comprido
Ao senhor Júlio Venâncio
Que tem o dele encolhido
É um pescoço gordo e baixo
Que deve ser excluído
             XVI
Ao senhor Armando Barradas
Eu deixo as minhas asinhas
Pr’a voar até ao céu
Ver Santos e Santinhas
É tão devoto e generoso
Que reza pelas alminhas.

Desconheço o Autor, mas sei que foi uma pesquisa do Dr António Chainho e publicados no Ecos.